Everyone can be Frida

Photography performance 2012-2020

The project Todos Podem Ser Frida [Everyone Can Be Frida] had its beginnings around 2011–2012 when the popularity of the artist Frida Kahlo was still in its infancy in Brazil. The inspiration came after watching the film “Frida” (2002), directed by Julie Taymor, during an art class in my undergraduate program in social communication. Although it is a romanticized interpretation based on some events in the artist's life, the film sparked my interest and led me to research more about Frida Kahlo's life and work, resulting in an active artistic project from 2012 to 2020.

The work, which also marked my introduction to the field of photography and visual arts, began in an intimate, somewhat insecure, and entirely experimental manner. At that time, I was drawn to the way Frida Kahlo navigated between the feminine and masculine through her clothing and how this was reflected in her works. Thus, I invited some people, including makeup artists, visual artists, and men, to pose in five essays: Frida por Inteiro [Frida in Full], As Cores de Frida [The Colors of Frida], O Amor de Frida [Frida's Love], A Dor de Frida [Frida's Pain], and O Aborto de Frida [Frida's Abortion]. In all these photoshoots, in addition to the issues related to the artist's life, there was a concern to evoke the symbols and aesthetics of her works. Most of these images were shared on the internet through social networks. Initially, this caused me some apprehension because I knew I was addressing a series of issues from a process that I now recognize as more complex and, at times, contradictory.

To my surprise, the Todos Podem Ser Frida [Everyone Can Be Frida] project gained momentum. However, this mainly occurred when I began to carry out photographic interventions with visitors to cultural events in which I was invited to participate. This action, which I also call photographic performance, consisted of a set with fabrics and characterization with makeup, flower tiaras, and colorful shawls. In addition to the often striking portraits resulting from these moments, what impressed me the most was the construction of a space for exchange. People who were unfamiliar with Frida Kahlo but felt curious; those who had never used makeup; those who identified in some way with Frida, whether for visible or invisible reasons; children and adults from different social classes, races, ethnicities, genders, sexualities, dissidence, and geographies participated in this project, which lasted about 7 years and resulted in more than 5,800 portraits.

After 4 years without activities, having deleted the website and social media accounts in 2020 in a succinct closing statement, several reasons led me to this decision. The fear of being labeled as an artist of a single project, the rise of the far-right in Brazil resulting in the censorship of an exhibition in Votuporanga, a city in the state of São Paulo, in 2018. The event triggered a popular movement where people dressed as Frida Kahlo and protested against the decisions of political leaders, with extensive media coverage. Furthermore, the increasingly frequent attacks on social media, as well as the gender and racial violence that my team and I began to face during the actions, and finally, my change in perspective regarding research themes in the arts.

I thought I would never delve into this material again until 2023 arrived, when I was contacted by people and institutions from different locations interested in the project. Some I declined, but others made me reconsider my stance toward something that continues to arouse interest and remains enveloped in a mysterious effervescence. Being part of a milestone where the image, life, and work of Frida Kahlo played a significant role that reverberated worldwide. I consider it mistaken to limit this movement only to a symbol of capitalism, as other forces also permeate the systems that constantly precaritize our lives. My neighbor knows Frida Kahlo and is interested in her, as does the school in the peripheral neighborhood where I currently reside, where they are now studying about her in the classroom. These children and young people no longer need to wait so long, unlike me, for example. Thus, I question what really moves when Kahlo becomes so popular and what this truly informs us. While one side reflects a voracious market, the other side of popularity speaks of access, connection, and proximity.

Therefore, I find it interesting to explore paths that broaden the possibilities of this project years later, looking at it with more generosity and also critically. Thinking that in 2017, through crowdfunding, I tried to raise funds for the production of an independent book about this work. However, I only managed to reach 25% of the total goal, and the money was returned to the supporters because it was an “all or nothing” campaign. What did I intend to unfold from this book? A catalog, an archive, an album? What to do with so many images in a world saturated with them? If we do not write about what crosses us, we are at the mercy of the words of others. In this way, I see this moment as a draft of something that can be expressed without fear, without self-judgment, but with a rigor that is sometimes porous and sensitive.

Starting with the name Todos Podem Ser Frida [Everyone Can Be Frida], which creates a speculative space to experiment being someone or something, but ultimately speaks more about who we are than just becoming Frida Kahlo through clothes and scenery. This concerns a certain availability and acceptance of the contradictions intrinsic to dressing up as someone. This gesture is perpetuated through photography, which, through the authorization of image use, can be shared on social networks, in newspaper articles, and on the walls of museums, galleries, and cultural centers around the world. Would it be delirium, a milestone in the time when Frida Kahlo was very popular — or “trend”, as some would say — or something that still manages to provoke beauty and strangeness? I understand that the name, despite being simple, also harbors doubts, secrets, and provocations that transcend the capacity for explanation. After all, Can Everyone Be Frida?

Todos Podem Ser Frida

Performance fotográfica 2012-2020

O projeto Todos Podem Ser Frida teve seu início por volta de 2011–2012, quando a popularidade da artista Frida Kahlo ainda era incipiente no Brasil. A inspiração surgiu após assistir ao filme “Frida” (2002), dirigido por Julie Taymor, durante uma aula de arte durante meu curso de bacharelado em comunicação social. Apesar de ser uma interpretação romanceada que se baseia em alguns eventos da vida da artista, o filme desencadeou meu interesse e me levou a pesquisar mais sobre a vida e obra de Frida Kahlo, resultando em um projeto artístico ativo de 2012 a 2020.

O trabalho, que também marcou meu início na área da fotografia e artes visuais, começou de maneira intimista, um tanto insegura e totalmente experimental. Naquele momento, fui atraída pela maneira como Frida Kahlo navegava entre o feminino e o masculino através de suas roupas, e como isso se refletia em suas obras. Assim, convidei algumas pessoas, incluindo maquiadores, artistas plásticos e homens, para posarem em cinco ensaios: Frida por Inteiro, As Cores de Frida, O Amor de Frida, A Dor de Frida e O Aborto de Frida. Em todos esses ensaios, além das questões ligadas à vida da artista, houve uma preocupação em evocar os símbolos e a estética de suas obras. A maioria dessas imagens foi compartilhada na internet por meio das redes sociais. Inicialmente, isso me causava certo receio, pois sabia que estava abordando uma série de questões de um processo que agora reconheço como mais complexo e, por vezes, contraditório.

Para minha surpresa, o projeto “Todos Podem Ser Frida” despontou. Mas, isso, principalmente, se deu quando comecei a realizar intervenções fotográficas com visitantes dos eventos culturais em que fui convidada a participar. Essa ação, que também denomino como performance fotográfica, consistia em um cenário montado com tecidos e caracterização com maquiagem, tiaras de flores e xales coloridos. Além dos retratos frequentemente impactantes resultantes desses momentos, o que mais me impressionava era a construção de um espaço de troca. Pessoas que desconheciam Frida Kahlo, mas se sentiam curiosas; aquelas que nunca haviam usado maquiagem; as que se identificavam de alguma forma com Frida, seja por razões visíveis ou invisíveis; crianças e adultos de diferentes classes sociais, raças, etnias, gêneros, sexualidades, dissidências e geografias participaram desse projeto, que durou cerca de 7 anos e resultou em mais de 5.800 retratos.

Após 4 anos sem atividades, tendo excluído o site e as contas nas redes sociais em 2020 em um comunicado de encerramento sucinto, vários motivos me levaram a essa decisão. O medo de ser rotulada como uma artista de um único projeto, a ascensão da extrema-direita no Brasil que resultou na censura de uma exposição em Votuporanga, cidade do estado de São Paulo, em 2018 — evento que desencadeou um movimento popular onde pessoas se vestiram como Frida Kahlo e protestaram contra a decisão dos líderes políticos, com grande divulgação na mídia —, os ataques nas redes sociais cada vez mais frequentes, assim como a violência de gênero e racista que minha equipe e eu começamos a enfrentar durante as ações, e, por fim, minha mudança de perspectiva em relação aos temas de pesquisa em artes.

Achei que nunca mais iria me debruçar sobre esse material até a chegada de 2023, onde fui acionada por pessoas e instituições de diferentes localidades interessadas no projeto. Algumas recusei, mas outras me fizeram reconsiderar minha postura diante de algo que continua a suscitar interesse e permanece envolto em uma efervescência misteriosa, fazendo parte de um marco onde a imagem, vida e obra de Frida Kahlo desempenharam um papel significativo que reverberou pelo mundo. Considero equivocado limitar esse movimento apenas a um símbolo do capitalismo, pois outras forças também permeiam os sistemas que constantemente precarizam nossas vidas. Minha vizinha conhece Frida Kahlo e se interessa por ela, assim como a escola do bairro periférico onde atualmente resido, onde agora estudam sobre ela em sala de aula. Essas crianças e jovens não precisam mais esperar tanto tempo, ao contrário de mim, por exemplo. Assim, questiono sobre o que realmente se move quando Kahlo se torna tão popular e o que isso realmente nos informa. Enquanto um lado reflete um mercado voraz, o outro lado da popularidade fala sobre acesso, conexão e proximidade.

Portanto, considero interessante explorar caminhos que ampliem as possibilidades desse projeto anos depois, olhando-o com mais generosidade e também de forma crítica. Pensar que em 2017, por meio de financiamento coletivo, tentei arrecadar fundos para a produção de um livro independente sobre esse trabalho. No entanto, consegui apenas 25% da meta total e o dinheiro foi devolvido aos apoiadores, pois era uma campanha de “tudo ou nada”. O que eu pretendia desdobrar a partir desse livro? Um catálogo, um arquivo, um álbum? O que fazer com tantas imagens em um mundo saturado delas? Se não escrevermos sobre aquilo que nos atravessa, ficamos à mercê das palavras dos outros. Dessa forma, vejo este momento como um esboço de algo que pode ser expresso sem medo, sem autojulgamento, mas com um rigor que, por vezes, é poroso e sensível.

Começando pelo nome “Todos Podem Ser Frida”, que cria um espaço especulativo para experimentar ser alguém ou algo, mas que, no fundo, fala mais sobre quem somos do que apenas se tornar Frida Kahlo por meio de roupas e cenários. Isso diz respeito a uma certa disponibilidade e aceitação das contradições intrínsecas ao “vestir-se de alguém”, especialmente quando esse gesto é perpetuado por meio de fotografia, que, através da autorização de uso de imagem, pode ser compartilhada em redes sociais, em artigos de jornais e nas paredes de museus, galerias e centros culturais ao redor do mundo. Seria um delírio, um marco no tempo em que Frida Kahlo foi muito popular — ou “moda”, como alguns diriam — ou algo que ainda consegue provocar beleza e estranheza? Compreendo que o nome, apesar de simples, também guarda dúvidas, segredos e provocações que transcendem a capacidade de explicação. Afinal, Todos Podem Ser Frida?